O distanciamento social fez com que buscássemos outras formas de nos comunicar que não fossem presenciais. As conversas passaram a ser digitadas, e as ligações vêm sendo substituídas por áudios de WhatsApp. Essa facilidade é, muitas vezes, um problema para os relacionamentos humanos. Um estudo realizado na Universidade de Harvard acompanhou pessoas por 83 anos, e comprovou que a qualidade das relações interpessoais é um dos principais fatores associados à felicidade, bem-estar e longevidade. Ora, a comunicação efetiva é essencial para os relacionamentos.
Na infância vamos colecionando verbetes em nosso "dicionário", começando com palavras simples, como água e mamãe, para cada vez mais complexas, como amor, carinho, raiva e medo. As primeiras palavras são aprendidas quando nossos pais dizem que aquilo que sentimos tem um nome. Portanto, cada palavra evoca implicitamente memórias de experiências e conhecimento adquirido. Além disso, o tom da voz, a expressão facial e corporal fazem toda a diferença numa comunicação efetiva. Um texto técnico pode ser compreendido em qualquer setor de uma empresa, porque não contém afeto. Entretanto, tente enviar esta mensagem para a pessoa amada: "não irei jantar, terei uma reunião com colegas". É o que precisa para gerar confusão, principalmente se quem recebe a mensagem já foi traído. É o sentimento de desconfiança que emergirá. Tratando-se de afeto, cada um entende com aquilo que tem dentro de si. Nos relacionamentos pessoais, a comunicação face a face é insubstituível. Alternativa: ligue ou faça chamadas por vídeo.
Jamais discuta por texto, o risco de ser mal interpretado é alto. É o que acontece nos grupos de mensagem. Se você passar o dia inteiro os lendo, simplesmente não faz mais nada de útil, nem descansa. Não desperdice sua energia escrevendo textão em grupos de trabalho, do condomínio, da família. Você perde o seu tempo, e cada um que ler, também. A sua opinião pode ser importante, mas grupos de mensagem não são fóruns contínuos de discussão. Dificilmente são tomadas decisões coletivas com base em grupos de mensagem. Para isso, existem reuniões.
A frase do Chacrinha é a mais pura verdade. Os ruídos de comunicação tornam os relacionamentos nebulosos. Pode ser difícil separar o que é nossa interpretação, e o que realmente foi intenção do outros. Se mal usada, a tecnologia que nos aproxima pode contribuir para destruir o que temos de mais precioso: nossos relacionamentos. Vamos melhorar nossa comunicação?
Texto: Vitor Crestani Calegaro
Psiquiatra e professor da Universidade Federal de Santa Maria